sábado, 25 de dezembro de 2010

dia 24, noite de natal

Noite de Natal, noite de magia e de alegria para muitos; não para mim e, certamente, não para muitas outras pessoas que, neste dia que devia ser de felicidade e amor, vivem em condições que não lhes permitem ter um sorriso na cara.
Também eu passo esta quadra com lágrimas incessantes abafadas por sorrisos forçados. Custa fingir que está tudo bem quando acima de tudo dói, custa abrir os presentes e fingir felicidade e entusiasmo quando, na verdade, só me apetece fechar no escuro e gritar, gritar até conseguir expulsar esta dor, a dor de ter tudo mas de, no fundo, não ter nada, de ter menos que um mendigo que pede esmola para comer.
Ninguém consegue entender o motivo de este ano não ter escolhido o meu presente (como habitualmente acontece pelo Natal e por épocas festivas), a razão é muito simples: nem a mais bela fita no melhor embrulho, nem todo o dinheiro do mundo pode pagar o melhor dos presentes, o único que desejava receber com todas as minhas forças. O melhor presente do mundo é, sem sombra para dúvidas, ter as duas pessoas mais importantes da minha vida, as duas pessoas que fizeram a promessa e não a cumpriram, prometeram não partir e partiram, deixaram-me sozinha! Não necessito nomear nomes, quem pertence ao meu coração tem noção disso, pelo menos é o que espero. Estar só certamente é pior do que estar sozinho, porque quem está sozinho está por sua decisão e não se sente só. Agora quem está só, está por decisões alheias e faça o que fizer muito dificilmente tem o poder de sozinho mudar isso; porque, por vezes, quem está mais só é aquele que está rodeado de mais pessoas que se tornam em nada, são incapazes de preencher o vazio. Eu estou só, estou rodeada de gente e no fundo nenhum deles tem a capacidade de preencher o vazio, não estou sozinha mas hei-de estar sempre só.
É curioso como temos a capacidade de amar e de valorizar aqueles que nos desprezam e que por nós nada sentem e de desvalorizar aqueles que nos amam e nos tornam prioritários nas suas vidas. Talvez isso se deva ao facto de sabermos que essas pessoas, as que desvalorizamos, estarão sempre lá aconteça o que acontecer pois, ao contrário das pessoas que amamos erradamente, são elas que nos amam incondicionalmente e que nos irão amar para sempre. Tal facto dá-nos segurança mas também um certo medo pois levamos uma vida a tentar conquistar o coração daqueles que são donos do nosso próprio coração e, no entanto, nada muda eles continuam a sentir o mesmo. Se com o nosso esforço todo eles continuam indiferentes aos nossos gestos, então como é que as pessoas que ignoramos por vezes e que não damos o devido valor nos podem amar e suportar quem somos? E afinal quem somos mesmo na realidade? Sei quem fui e agora infelizmente sei quem sou, antes fui uma pessoa que não se cansava de amar que tinha todo o amor do mundo no seu coração, alguém que se atirava de cabeça, que amava com todas as forças, era alguém que amava e que sonhava, sonhava muito. Fui certamente alguém que acreditou ter asas e conseguir voar e posso dizer que fui alguém que voou, alguém que voou muito alto, alguém que se sentou nas nuvens, que tocou o sol, que contemplou as estrelas e que as segurou nas suas mãos, sou alguém que arriscou e ganhou tudo mas quanto mais se sobe pior é a queda e, no final das contas, o risco que corri, o tão alto que subi não compensou porque tudo o que ganhei numa vida, perdi num segundo, perdi o que tinha como certo e perdi tudo aquilo pelo qual tinha lutado e conquistado e tudo por acreditar, tudo por amar..
Tudo na vida se pode ver como duas faces da mesma moeda, o amor não é excepção à regra. Amar incondicionalmente alguém é a maior alegria do mundo, uma sensação que não se compara a nenhuma outra mas é como um veneno, como uma droga. Amar alguém a este ponto, torna-nos fracos, consome-nos por dentro e faz-nos cair cada vez mais num poço, numa escuridão muito difícil de retroceder. Quando amamos alguém incondicionalmente e não recebemos a mesma porção de amor dessa pessoa ou até mesmo amor nenhum, o amor torna-se uma droga em que o efeito passa dando lugar aos efeitos secundários que neste caso são piores que uma droga: temos a dor do mundo toda em cima de nós, o sol deixa de brilhar o mundo deixa de girar, tudo o que levamos anos a construir, a nossa independência desaparece no segundo em que os nossos olhos, em que o nosso coração se torna prisioneiro de outro ser. E, assim como as drogas, o amor é altamente viciante, quando nos entregamos a cem por cento a alguém, quando entregamos o nosso coração a alguém que não o merece, a alguém que não sabe o que fazer com ele, caímos numa espiral de dor que nos puxa mais e mais para um vazio que é impossivel de apagar, impossivel de tirar o vicio, o vicio de um amor verdadeiro.
Cada vez tenho mais certezas que o melhor presente quer seja de Natal, quer seja de aniversário ou de outra coisa qualquer, o melhor presente é a união e o amor, o presente que nem neste nem em Natal nenhum recebi e que também não tenho a esperança que isso aconteça. Posso dizer que me alimento no amor que dou aos outros, alimento-me a amar incondicionalmente alguém, é o meu vicio, é a minha droga...

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